Entrevista com a orquidófila Luiza Rossi
JO - Há quanto tempo
tem o hobby de orquídeas e quais as dificuldades encontradas no cultivo aqui em
Montes Claros?
LR - Este hobby
iniciou em 1997 quando ganhei da minha sogra uma orquídea e que adaptou muito bem
numa das árvores em minha chácara. Porém ao adquirir outras espécies e híbridos
comecei com certas dificuldades. Iniciei um estudo em revistas especializadas, mas as dicas dadas não surtiam os efeitos esperados aqui na nossa região, com
isso, algumas morriam e outras não floresciam. Foi conversando com orquidófilos
de várias regiões do país que observei as particularidades de se cultivar
orquídeas com relação ao clima, umidade do ar, regas, etc. Perdi alguns Paphiopedillum, dei de presente meus Cymbidium para pessoas que moravam em locais
onde o inverno é mais definido, para que pudessem florescer, pois são orquídeas
que não se adaptam muito bem em nossa região.
Procurei outras pessoas daqui de Montes
Claros que gostavam de orquídeas. E assim formamos um pequeno grupo para trocar
experiências e em 2001 fundamos a Sociedade Orquidófila Norte Mineira – SONM.
JO - Quais cuidados
diferentes se devem ter com as orquídeas aqui no Norte de Minas?
LR - Quanto à luminosidade,
as revistas diziam (e algumas ainda dizem) que se deve dar preferência a locais
onde receba apenas o sol da manhã, protegendo do sol do meio-dia. Mas, em nossa
região o sol depois das nove horas também é muito quente, podendo queimar as
folhas. É necessário bastante luminosidade
para florescer, mas sem sol direto. Poucas são aquelas que gostam de ficar em
pleno sol. Esse excesso de luminosidade no Norte de Minas podem deixar as
folhas amareladas.
Quanto à rega, a recomendação que liamos
era molhar a planta uma vez por semana. Porém, se agirmos dessa forma, as nossas
orquídeas irão desidratar, pois a umidade relativa do ar da região norte-mineira
é muito baixa. Recomendamos regá-la sempre que perceber que o substrato
(material onde ela está plantada) estiver seco. Ou então, borrifar as folhas e
substrato diariamente.
Mas, mesmo regando um pouco mais, é bom
lembrar que é mais fácil matar uma
orquídea por excesso de água do que pela falta. Excesso de água faz com que
elas apodreçam.
Lemos ser bom regar com água da chuva, e
realmente é a ideal. Infelizmente esta é escassa para nós. Outro problema é a
nossa água calcária que, além de deixar um aspecto feio nas folhas (uma crosta
esbranquiçada), bloqueia a absorção de nutrientes, por ser muito alcalina, com
pH em torno de 8, sendo o ideal abaixo de 7. Sugerimos, então, colocar ácido
fosfórico, limão ou vinagre na água para baixar este pH. Mas, estamos verificando, ainda, qual a melhor
dosagem.
JO - Você havia me
dito que muitos iniciantes no cultivo de orquídeas cometem alguns erros. Quais
são eles?
LR - Vemos com
frequência que as pessoas ao comprar uma orquídea florida gostam de passá-la
para um vaso maior. Isto é um erro. Primeiro, não se deve transplantar uma
orquídeas com flor. Se, por alguma razão, necessitar mudar de vaso deve fazê-lo
por volta de trinta dias após caírem as flores. Segundo, as orquídeas não
gostam de vaso grande; uma planta pequena em vaso grande é condená-la à morte,
devido ao desgaste para emitir suas raízes e preencher todo o espaço.
Um erro comum é plantá-la em terra. É
bom saber que a maioria das orquídeas é epífita, portanto, não deve ser
plantadas em terra. O melhor substrato é o xaxim desfibrado, porém sua
comercialização está proibida devido à extinção da Dicksonia sellowiana, planta da qual se extrai o xaxim. Estamos
fazendo estudos para verificar qual seu melhor substituto. Podemos utilizar vários substratos, mas não a
terra. Há aqueles que estão plantando apenas em brita, outros em coxim, em
casca de açaí, em chip de coco, etc. Alguns
orquidófilos da SONM estão plantando somente em casca de coco macaúba tratada.
No nosso orquidário (Rossi & Barbosa) estamos utilizando uma mistura de
chip de coco com casca de coco macaúba tratada e que tem dado bons resultados.
Mais um erro: molhar ou adubar em
horário de sol. Os raios solares incidindo na gota d’água aumentam seu
potencial de irradiação podendo queimar e cozinhar as folhas da planta,
aumentando o risco de doenças. O ideal é regá-la bem no início da manhã ou no
final da tarde. À noite, também não é bom, pois ela não deve dormir com os
“pés” (raízes) molhados.
JO - Para terminar,
poderia dizer algo mais àqueles que acabaram de adquiri uma orquídea?
LR - Gosto muito
de uma frase da Delfina de Araújo do site Brazilian
orchids:
"Se,
apesar destas instruções,
mesmo morando em lugar de clima quente, você quiser comprar uma Sophronitis
coccinea ou Cymbidium por causa de sua beleza ou, morando em clima
frio, quiser comprar um vaso de Phalaenopsis ou Vanda teres, nem
tente fazê-las florir novamente, dê para alguém que more em lugar frio ou
quente conforme o caso ou, na pior das hipóteses, jogue fora quando acabar a
floração e compre outra."
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Cymbidium |
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Paphiopedilum |
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Luiza Rossi sendo entrevistada na exposição da Sociedade Orquidófila de Belo Horizonte |